Crônicas de um Estado laico
A ladainha laicista nas escolas e o cancelamento do aniversariante do Natal

Não existe Natal sem Jesus e o Natal está chegando.
Shoppings e lojas enfeitadas, luzes piscando em todo lugar. O que nos incomoda
em meio ao Advento é o movimento cada vez mais impositivo da secularização ou
do discurso laicista de que não se pode falar de Jesus no Natal, porque seria
uma afronta as outras religiões e ao Estado laico, e blablablá.
De qualquer forma, é importante deixar claro que o problema
não é o Papai Noel – muitos desavisados, aliás, criticam o pobre velhinho como
se fosse uma criação do sistema. Santa ignorância. O Papai Noel é fruto direto
da influência cristã e representa São Nicolau de Mira. Nicolau foi monge no
século 4.º e era reconhecido por sua generosidade e afinidade com crianças. É
sabida sua preocupação com crianças carentes, não apenas sob o ponto de vista
assistencial, mas também educacional; por isso ele é tido como padroeiro dos
estudantes. Aliás, a própria aparência do atual Papai Noel é exatamente como
São Nicolau é descrito: velhinho, gordinho e com longas barbas brancas.
O problema está no fato de o Papai Noel ocupar a
centralidade do Natal, excluindo o dono da festa e aniversariante. Nunca é
demais lembrar que o real motivo do Natal é a comemoração do nascimento do Deus
Filho na plenitude dos tempos, quando o Leão de Judá, o Sempiterno Filho de
Deus, o Rei dos Reis, o Senhor dos Exércitos se esvaziou, tornando-se uma indefesa
criança, deitada em uma manjedoura, na pobre cidade de Belém. O problema não é
o Papai Noel – que, aliás, é fruto direto da influência cristã. O problema está
no fato de o Papai Noel ocupar a centralidade do Natal, excluindo o dono da
festa e aniversariante.
As escolas são exemplo disso, públicas ou privadas. Ensinam
as crianças a celebrar o Natal na base da troca de presentes (que em si não é
problema, pois representa os presentes entregues ao Menino Jesus pelos reis
magos), pinheirinho de Natal e Papai Noel, sem mencionar uma única vez que o
motivo da festa que mobiliza a escola, a cidade e o mundo é o nascimento de
Jesus. Isso não tem nada a ver com Estado laico, escola laica e outras
ladainhas, mas com um fato histórico inconteste, tanto que contamos o tempo a
partir dessa data – por que o leitor acha que estamos no ano de 2022? Eu mesmo
perguntei à minha filha de 5 anos se lhe explicaram o motivo do Natal na
escola, ou, no mínimo, se comentaram algo sobre Jesus. “Não, papai, na escola
só falam do Papai Noel”. É lamentável: seja por uma imposição da secularização,
seja pelo mantra fake do Estado laico, nossas crianças são “desensinadas” na
escola – a palavra pode até não existir no português, mas na vida prática é
exatamente o que acontece.
Minha vontade é sugerir à ex-escola da minha filha (sim, já
a tirei de lá) para adotar outro calendário, já que Jesus não pode ser
mencionado. Mas isso daria tela azul na diretoria, pois todos os calendários
têm origem religiosa. E agora, José? Não tem jeito; a religião é um fato
inexorável da vida humana.
Por outro lado, não é só de secularismo ou ladainha fake de
Estado laico que vive o Brasil. Existem também boas iniciativas, como a União
Nacional das Igrejas e Pastores Evangélicos (Unigrejas). A Unigrejas congrega dezenas
de milhares de igrejas e pastores no Brasil e tem se notabilizado por uma
postura firme contra o secularismo e a tentativa laicista de impor um modelo de
relacionamento com o fenômeno religioso que nunca existiu no Brasil e tampouco
encontra guarida em seu Estado constitucional. A última nota pública da
Unigrejas, assinada por seu presidente, bispo Eduardo Bravo, tem a ver com o
advento do Natal. É um texto cirúrgico, razão pela qual o reproduzimos na
íntegra abaixo.
Lembrando da igreja sem liberdade religiosa no Natal
O advento é temporada do ano em que nós olhamos para a
primeira vinda de Cristo, quando Ele se fez carne em forma de um bebê nascido
em Belém. É tempo de refletirmos na história de redenção e prepararmos nosso
coração para meditar e celebrar diariamente na salvação do Senhor. Como cantou
a milícia dos anjos aos pastores no campo: “Glória a Deus nas maiores alturas,
e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem” (Lucas 2,14). É um tempo
de lembrar e também esperar. Lembramos do nascimento de Cristo, e esperamos o
dia em que ele irá retornar para buscar a sua Igreja.
Hoje, em cumprimento à grande comissão entregue por Jesus,
“ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura”, a Igreja de Cristo
está espalhada pelo mundo todo. Contudo, Jesus alertou que, por causa de seu
nome, os Seus discípulos seriam perseguidos, conforme João 15,20-21:
“Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu
senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram
a minha palavra, também guardarão a vossa. Tudo isto, porém, vos farão por
causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou.”
A verdade é que, enquanto festejamos livremente o Natal no
Brasil, com grandes festividades em nossos lares e congregações, há muitos de
nossos irmãos e irmãs em outras partes do mundo que não podem comemorar o
nascimento de Cristo com a mesma abertura que temos. Na verdade, sofrem
perseguição intensificada nesta época do ano. O portal cristão especializado
Religion Unplugged relata que “muitos cristãos, apesar de sua fé e devoção, têm
pouca oportunidade de celebrar o nascimento do menino Cristo, ou de ‘descansar
à beira da desgastante estrada e ouvir os anjos cantarem’”.
O referido portal explica que no Irã o Natal é um tempo de
crescente controle e perseguição, em que a junção de cristãos para celebrar é
acompanhada de violentas prisões. Na Nigéria e outros países africanos,
invasões e massacres durante a madrugada fazem os sobreviventes agradecerem a
cada manhã que acordam porque o Senhor os guardou para viverem outro dia. Na
China, igrejas são vigiadas, cultos são interrompidos, bem como líderes
eclesiásticos que são levados acabam desaparecendo.
A Unigrejas, portanto, faz este desafio para nós aqui no
Brasil: celebrar o nascimento de nosso Salvador neste período de advento, sem
esquecer dos nossos muitos irmãos e irmãs em Cristo que não desfrutam dessa
mesma liberdade de religião e crença para comemorar o nascimento de nosso
Salvador. Oramos para que todo consolo e encorajamento estejam sobre a Igreja
perseguida espalhada pelo mundo neste Natal, e que muitos deles sejam feitos
livres dessas amarras. Ao meditar sobre a primeira vinda de Cristo,
fortalecemo-nos com a esperança de sua segunda vinda, quando todos nos
reuniremos livremente em Sua presença para festejar a Salvação que veio por
meio de Cristo e para dar Glórias a Deus nas maiores alturas!
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