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São Paulo, 29/03/2024

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    A morte de D. Eris e o efeito colateral das arbitrariedades

    Essa senhora, que completaria 86 em fevereiro, tinha um filho único, que lhe dedicava toda a atenção e carinho


    A morte de D. Eris e o efeito colateral das arbitrariedades

    O dia 28 de dezembro materializa uma das páginas mais cruéis da história política brasileira. Os efeitos colaterais da violência que o jacobinismo instalado do país, com o Ministério Público e o Judiciário agindo na destruição de reputações e provocando uma condenação midiática antecipada de ocupantes de funções públicas, atingiram seu ápice com o falecimento de D. Eris Bezerra Crivella. Uma infeliz coincidência ou a dor que ela materializou, igual a milhares de mães, que assistem a seus filhos colocados em um pelourinho eletrônico, com prisões decretadas no tênue fio que separa a legalidade da arbitrariedade?

    Essa senhora, que completaria 86 em fevereiro, tinha um filho único, que lhe dedicava toda a atenção e carinho. Ligações diárias, abraço e aconchego uniam historicamente os dois. E seu filho único a cultuava. Dedicava uma atenção que revelava o seu caráter como homem. Sempre foi um bom filho e um filho presente.

    Como um coração de mãe resiste a essa Via Crucis moderna?

    Da mesma forma que Maria sofreu ao ver seu filho, nascido em 25 de dezembro, açoitado e crucificado, receber uma coroa de espinhos, que mãe não sofre em ver um filho arrancado de seu lar, trancafiado em nome da teoria do “domínio do fato”, condenado previamente por horas e horas de telejornalismo sem que haja um pecado transitado e julgado?

    Para D. Eris, foi o primeiro Natal sem o abraço do filho. Dias intermináveis sem os telefonemas que tanto estreitavam a intensa ligação entre mãe e filho.

    A dor é tão grande que uma mãe pode dormir pedindo a Deus que não a acorde para uma realidade sórdida de um mundo que abriu mão da presunção de inocência.

    Deus parece que atendeu a esse pedido. E hoje, Dona Eris não acordou mais. Deixa de ver jacobinistas togados, ao lado das células rancorosas do Ministério Público, desafiando o sentimento universal de que todos são inocentes perante a lei até que se prove o contrário.

    Para esses radicais é fácil não causar efeitos colaterais nas famílias, se esses políticos agirem direito. O sofrimento dos entes queridos é a maior condenação que um bandido pode ter. Porém, nada se compara ao sofrimento de um injustiçado e de tantos políticos e ocupantes de cargos públicos tragados por esse messianismo inquisitório, que não conseguiu provar nenhum dolo apontado inicialmente. Quem restaura o mal praticado contra as milhares de Donas Eris em todo o Brasil? São mães, esposas, maridos, filhos e ente amados que são atingidos pelo circo midiático.

    A corrupção tem que ser combatida e punida. Os superpoderes concedidos às delações e às investigações açodadas precisam de uma vacina urgente. A demonização da política é um câncer em avançado estado de metástase.

    Nossa sociedade expõe o seu lado mais sórdido e se nutre da reputação de dezenas de pessoas assassinadas nas novas fogueiras da inquisição moderna, alimentadas não por toras de madeiras, mas por manchetes e telejornais a serviço desses inquisidores do lavajatismo oportunístico.

    *Cláudio Magnavita é diretor de redação do Correio da Manhã.




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