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São Paulo, 23/04/2024

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    Pastor: o trabalho mais importante do mundo

    A atividade daqueles que pregam a Palavra de Deus vai muito além de religiosidade – é uma vocação que exige uma manutenção contínua de propósitos. Entenda


    Pastor: o trabalho mais importante do mundo

    No Antigo Testamento, a responsabilidade pela vida espiritual de toda a nação de Israel estava literalmente sobre os ombros do Sumo-sacerdote. Eram eles que sustentavam o peitoral que carregava as pedras de diferentes cores simbolizando seu compromisso com a espiritualidade das Doze Tribos de Israel. O Sumo-sacerdote era o único, na época, que tinha um contato direto com Deus, levando as súplicas e anseios do povo perante o Senhor e, em via de mão-dupla, levando o direcionamento dEle para a nação. 

    Hoje, após o Supremo Sacrifício do Senhor Jesus, todo filho de Deus tem acesso ao Pai por meio da fé, mas a responsabilidade dos sacerdotes atuais (os pastores) continua a de guiar e manter a vida espiritual dos fiéis. Por isso mesmo, esses ministros da Palavra de Deus precisam de todo o apoio necessário a tão importante função. 

    Com a propagação da Palavra deveríamos encontrar igrejas fortes e avivadas pelo poder de Deus, o que impactaria positivamente o andamento da sociedade em todos os seus aspectos, mas, ao contrário, o que vemos é um grande declínio moral, econômico, político e mesmo na vida pessoal dos membros de muitas igrejas. 

    Isso nos mostra a deterioração que tem afetado diretamente os líderes evangélicos. A situação é tão preocupante que tem provocado inúmeros casos de depressão e ansiedade entre eles, crescentes no Brasil, nos Estados Unidos e em outros países, levando até a casos de suicídio. Por isso uma atenção especial a esse assunto está sendo dada nessa primeira edição da Revista Renovação, que foi em busca de respostas para entender o que pode ser feito diante desse quadro.

    Problemas e suas causas

    Não podemos “tapar o sol com a peneira”. Segundo dados concretos coletados pela Revista Renovação, só nos Estados Unidos, por exemplo, 8,7% dos pastores sofrem atualmente de depressão, enquanto os acometidos pela ansiedade chegam aos 11,1%, conforme um amplo apanhado de informações realizado por entidades governamentais e religiosas. Os mesmos dados mostram que a porcentagem dos pastores com esses problemas seria maior que a das outras profissões, em geral de 5,5%. 

    Os dados são realmente preocupantes e a pergunta que fica é: por que isso acontece em pleno século XXI, quando temos tanto acesso à informação e facilidade em pedir ajuda? Bem, segundo o Bispo Sidney Marques, da Universal, esse e outros problemas enfrentados pelos ministros de Deus não são tão recentes quanto podem parecer à primeira vista: “À luz da Palavra de Deus, conforme o livro de Atos, com a descida do Espírito Santo, os apóstolos passaram a enfrentar grandes lutas e desertos. A igreja primitiva era alvo de fortes perseguições e investidas, até mesmo com homicídios, realizadas pelos inimigos da fé – o que, mesmo assim, não intimidou ou neutralizou o avanço dos apóstolos, mostrando a condição real de quem tem um encontro verdadeiro com Deus. Não houve entre eles quem ficasse depressivo ou pensasse em suicídio”. 

    O Bispo Sidney faz um paralelo com os dias atuais: “Hoje, muitos têm acesso à Bíblia, podem fazer uma faculdade de teologia, adquirir o conhecimento e a teoria da Palavra. Porém, só informações seriam o bastante? A própria Bíblia ensina os passos do processo de afirmação de um servo de Deus:

    1) Libertação;

    2) Conversão;

    3) Novo nascimento;

    4) Selo do Espírito Santo”.

    O Bispo complementa: “Ser frequentador, membro ou servo em qualquer ministério não garante segurança ou isenta alguém de ser incluído nesses lamentáveis índices que presenciamos. Eles nos servem de alerta em relação a não nos iludirmos com a quantidade, e sim, nos importarmos com a qualidade dos que se dizem cristãos”. 

    Identificando os perigos

    Identificar as causas do referido declínio é de suma importância para sanar o problema e saber que pontos devem ser combatidos. Analisando os dados das pesquisas citadas anteriormente, chegamos a cinco grandes perigos que vêm minando tanto a saúde psicológica e espiritual de pastores quanto a qualidade das igrejas evangélicas em geral. Vale observar que eles estão intrinsecamente relacionados entre si. 

    O primeiro entre esses perigos é o de uma crescente secularização das igrejas, que tem levado seus membros a uma hipervalorização do ser humano em detrimento da dependência de Deus, uma espécie de obsessão pela autonomia pessoal.

    É um crescente culto ao próprio ego, em que o indivíduo personaliza a sua própria e conveniente versão de verdade, de moral, desconsiderando a verdade pregada pela Palavra.

    E, nesse tipo de ética “customizada”, pessoas imprudentemente autocentradas dão vazão a sentimentos que levam a fatos lamentáveis, como ganância, falta de consideração para com o próximo – e, não raras vezes, a uma sexualidade insalubre, predatória e nociva a si e a terceiros (vide pornografia, pedofilia, estupros, promiscuidade, ninfomania, prostituição e sua exploração) – tudo isso fruto de uma moral maleável demais.  

    Uma tendência de valorizar mais as emoções do que a fé inteligente seria uma das causas, se não a principal, desse distanciamento da submissão à voz de Deus. O Bispo Ricardo Souza, do Centro de Ajuda Espiritual em Portugal, reforça: “Creio que a principal causa disso é a falta de libertação, do novo nascimento e do batismo com o Espírito Santo”.

    E complementa: “Vemos muitos trabalhos regados a emoção, que geram pessoas que até adoram e louvam a Deus, mas sem conhecê- Lo de fato, sem um convívio com Ele no dia a dia e, portanto, sem Sua influência positiva no cotidiano e na qualidade de suas vidas”. 

    O segundo risco encontrado é a divisão nas igrejas. A intensa polarização de opiniões alimentada pelas mídias nos últimos anos, em que muitos exteriorizam suas diferenças de pensamento livremente, mas de forma ofensiva e separatista, sobre qualquer assunto (de esportes a política, passando por muitos outros mais e menos importantes), reflete nas congregações. 

    Se na sociedade em geral estamos mais divididos do que em outras épocas por questões como política, raça, opção sexual e muitas outras, isso chega às igrejas e torna dentro delas a cultura tão mutável quanto “lá fora”. Não é uma divisão que leve a debates saudáveis, mas a verdadeiros embates que geram dissidências. 

    Em terceiro lugar vem uma espécie de crise de identidade evangélica. O que representa ser evangélico hoje em dia? Muitos confundem formar e fazer funcionar o Corpo de Cristo com um mero bloco de eleitores com as mesmas opiniões políticas ou uma aliança teológica, o que gera uma tentativa de se inserir num grupo social sem que se saiba realmente o que ele representa. O que deveria significar estar intimamente ligado a Deus por meio do Evangelho se transforma meramente em uma forma de expressar ideais partidários ou a opinião sobre regras sociais. 

    Infelizmente, alguns pastores que incorrem nesse erro têm divulgado mais suas opiniões pessoais, suas escolhas políticas, do que debatido questões importantes para a sociedade à luz da Bíblia, o que confunde um fiel sobre sua identidade, pois, ao discordar do que a liderança disse, passa a não mais se considerar evangélico, ligando essa definição ao líder, e não à crença em Deus por meio do que indica seu Filho e a fidelidade a Ele. 

    O quarto perigo: cristãos malformados, sem a devida fundamentação na Palavra de Deus, formam igrejas débeis e ineficientes em seu dever maior, o de levar a plenitude de vida e a Salvação a seus membros. Essas igrejas, no entanto, formam outros pseudocristãos que nada têm a ver com um real seguidor do Senhor Jesus e enfraquecem ainda mais as igrejas, numa repetição perigosa de um padrão, um círculo vicioso que distancia a igreja de seu real objetivo. 

    Essa geração de “biblicamente iletrados”, sem a devida ligação com o Evangelho, é presa fácil para os apelos mundanos em ceder a emoções, impulsos e lições de “seja fiel a você mesmo e siga seu coração” – vide a secularização das igrejas citada no primeiro perigo – gerando discórdia entre familiares, divórcios e outros conflitos. Uma luta árdua para qualquer pastor, contra uma corrente poderosa. 

    O quinto ponto perigoso é o crescimento dos extremos dentro da igreja, que separa para cantos opostos de uma congregação mentalidades que lembram fariseus e hedonistas do Antigo Testamento. 

    De um lado, os que se julgam “bons demais” por seguirem as regras da religião e se acham superiores aos que não as cumprem, como os legalistas de outrora – bem evidentes nos relatos neotestamentários. Na extremidade oposta, aqueles que caem na armadilha de que “Jesus quer só que você seja feliz”, levando a um intenso individualismo (perigo 1) e uma deturpação do mandamento do respeito entre os irmãos (perigo 4, cristãos malformados e equivocados). 

    Qualidade, não só quantidade

    Como dito pelo coordenador da Unigrejas, o Bispo Eduardo Bravo, na Conversa Franca (entrevista que começa na página 10 desta edição), há uma enorme discrepância entre a quantidade de evangélicos no Brasil e sua qualidade de vida, quando deveria, obviamente, ser diferente. 

    Ele cita, ainda, outro perigo que a igreja evangélica atual enfrenta, aliado àqueles já mencionados. “Há um grande desvio de foco espiritual, pois muitos se envolvem com o mundo gospel em busca de defender interesses econômicos, pois é um público muito grande de consumidores.

    Veja a música, por exemplo. Antigamente era composta para ser uma pregação, hoje é para vender. A música na igreja começou a ser usada para as pessoas decorarem a Bíblia, numa época em que a alfabetização e os exemplares da Palavra Sagrada não eram tão acessíveis. Perdeu-se isso e o foco é vender, lucrar.” 

    O coordenador da Unigrejas enxerga num futuro próximo o grande risco do resultado de todos esses perigos, caso eles não sejam combatidos desde agora e vencidos: “Se o Brasil se tornar uma grande nação evangélica sem qualidade, isso será um péssimo testemunho para o Senhor Jesus. As outras nações vão olhar e dizer: ‘Estão vendo? Não vale a pena aceitar Jesus como Senhor e Salvador, pois o Brasil se tornou uma nação evangélica e vai de mal a pior. Portanto está sobre os líderes evangélicos brasileiros a grande responsabilidade de trabalhar para que a Igreja de Jesus tenha qualidade, que seja um bom testemunho diante das demais nações.”  

    O bom combate

    A Unigrejas promove diferentes eventos, como cita seu dirigente. “Todo mês acontece uma reunião exclusivamente com o intuito de cobertura espiritual, em que os pastores são ministrados na Palavra. Há um momento de oração, buscamos a orientação do Espírito Santo, fazemos leitura da Bíblia. Tudo é voltado para a condição espiritual de cada pastor.” 

    “Além disso”, continua, “há a palestra mensal Fé e Finanças, cujo intuito é o ensino de gestão dos recursos de uma igreja, como elaborar projetos, e ainda cursos livres, como os de capelania, capacitação teológica, tipologia bíblica, workshops de capacitação para mídia em geral. O calendário para as atividades e eventos estará sempre disponível no site unigrejas.com. 

    O Bispo conclui, numa analogia interessante: “Se pararmos para pensar, um pastor bem preparado espiritualmente é mais importante que um médico ou um bombeiro – não desmerecendo essas duas importantíssimas profissões –, pois esses salvam a vida de alguém, que, mesmo assim, um dia morrerá de alguma forma, mas o pastor cuida da vida eterna, da Salvação, que transcende a própria morte. Portanto, o trabalho de um pastor é o mais importante que há no mundo”. 

    Portanto, cuidemos de nossos ministérios e, principalmente, da nossa vida íntima com Deus, para que possamos fazer uso das mesmas palavras do apóstolo Paulo em Timóteo 4.7-8: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a Sua vinda”




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